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Aspetos a ter em conta no cálculo de um autoconsumo (com e sem baterias)

Quando é necessário realizar um autoconsumo fotovoltaico com ligação à rede, há alguns critérios que devemos ter em conta para realizar um dimensionamento o mais lógico e eficiente possível

Quando é necessário realizar um autoconsumo fotovoltaico com ligação à rede, há alguns critérios que devemos ter em conta para realizar um dimensionamento o mais lógico e eficiente possível. Não podemos cair no erro de pensar que quanto mais placas solares instaladas, mais energia vamos gerar. Logo, devemos adaptar o dimensionamento da nossa instalação fotovoltaica à natureza dos consumos da nossa habitação, negócio ou indústria.

1. Conhecer os dados de consumo do local

Podemos aceder a estes valores através da nossa fatura da luz que todos recebemos mensalmente na caixa de correio ou por e-mail. É possível elaborar um design preliminar com uma única fatura de eletricidade, desde que possamos garantir que o nosso consumo é relativamente constante ao longo do ano visto que, geralmente, inclui-se uma secção na qual podemos consultar a energia média consumida no último ano até esse momento. Com os dados de consumo anual de energia podemos determinar qual a potência fotovoltaica que melhor se adapta às nossas necessidades.

Se quisermos aprofundar mais detalhadamente, podemos sempre obter a nossa curva de consumo diário recorrendo às plataformas online dos distribuidores energéticos e adaptar as nossas necessidades à potência fotovoltaica que pretendemos instalar. Inclusive, podemos exportar estes dados para uma folha de cálculo para poder fazer um melhor tratamento dos mesmos.

 

2. Que potência de pico instalar?

Assim que soubermos qual a nossa média de consumo, chega o momento de determinar qual a potência de pico que é necessário instalar. O objetivo principal é que a quota de autoconsumo do nosso sistema fotovoltaico seja o mais elevada possível.

É possível definir a quota de autoconsumo como a percentagem de energia produzida que é autoconsumida diretamente. Assim, quanto maior a quota de autoconsumo, maior será a eficiência e menor será o período de amortização da instalação.

Aqui podemos ver um exemplo de uma loja com um consumo médio diário de 230 kWh e na qual se aplicou uma instalação de 20 kWp.

 

Neste caso, a nossa quota de autoconsumo em % seria a seguinte:

Cuota de autoconsumo = (110kWh generados / 123 kWh autoconsumidos) x 100 = 89,3%

Isto é, 89,3% da energia solar gerada é autoconsumida diretamente pelo sistema e apenas 10,7% é remetida para a rede.

 

3. Quero acumular o meu excedente ou remetê-lo para a rede?

A utilização de uma bateria solar para armazenar a energia do nosso sistema fotovoltaico é totalmente opcional. Acrescentar um sistema de baterias à nossa instalação implicará um aumento do custo da mesma e permitir-nos-á depender menos da rede pública, visto que podemos aproveitar, durante a noite ou em dias nublados, essa energia solar excedentária que produzimos durante o dia. No entanto, aqui temos de prestar muita atenção à nossa curva de consumo.

Se o nosso consumo estiver concentrado nas horas centrais do dia e a nossa potência fotovoltaica instalada for insuficiente, corremos o risco de não conseguir carregar a bateria, o que implica um gasto inútil num sistema de armazenamento que não vai conseguir carregar com a produção dos nossos painéis fotovoltaicos.  No exemplo anterior da loja de 20 kWp, o excedente seria de apenas 10,7% pelo que não faz sentido instalar um sistema de acumulação.

Pelo contrário, se o nosso consumo ocorrer principalmente nas primeiras horas do dia e durante a tarde, o nosso sistema encarregar-se-á de abastecer os consumos e enviar o excedente para as baterias. Neste caso é interessante considerar a instalação de um acumulador, visto que estamos a enviar este excedente de energia produzida para o sistema de baterias.

 

E se tiver excedentes e não quiser utilizar um acumulador?

Outra opção contemplada pelo novo RD 244/2019 para instalações de até 100 kWp com envio de excedentes é receber uma compensação pela energia enviada a título de saldo líquido. Não obstante, temos de ter em conta que a compensação pela referida energia será sempre inferior ao preço ao qual a estamos a comprar.

 

4. Ferramentas de design e cálculo

Realizar cálculos de uma instalação de autoconsumo pode por vezes ser aborrecido. Principalmente, quando não conseguimos prever com exatidão as condições de irradiação, inclinação e orientação dos painéis solares.

Felizmente, os principais fabricantes de inversores fotovoltaicos já dispõem de softwares de design totalmente gratuitos e que estimam as nossas percentagens de quota de autoconsumo e quota tributária no nosso sistema, seja com ou sem acumulação.

Um exemplo seria o da Solar Edge Designer:

Em conclusão, o cálculo de uma instalação de autoconsumo deve corresponder às nossas necessidades de consumo. Não é por enchermos o nosso telhado de placas solares que teremos um sistema mais eficiente, nem o contrário. Realizar um breve estudo preliminar que nos permita saber qual é a potência de pico ideal que permita converter o nosso sistema no mais amortizável possível, no menor prazo possível, é uma questão básica e necessária. As ferramentas de design disponibilizadas pelas principais marcas de inversores podem ser muito úteis não só para realizar estes cálculos de uma forma rápida, como também para compreender melhor o funcionamento do nosso sistema fotovoltaico.