Quando é necessário realizar um autoconsumo fotovoltaico com ligação à rede, há alguns critérios que devemos ter em conta para realizar um dimensionamento o mais lógico e eficiente possível. Não podemos cair no erro de pensar que quanto mais placas solares instaladas, mais energia vamos gerar. Logo, devemos adaptar o dimensionamento da nossa instalação fotovoltaica à natureza dos consumos da nossa habitação, negócio ou indústria.
Podemos aceder a estes valores através da nossa fatura da luz que todos recebemos mensalmente na caixa de correio ou por e-mail. É possível elaborar um design preliminar com uma única fatura de eletricidade, desde que possamos garantir que o nosso consumo é relativamente constante ao longo do ano visto que, geralmente, inclui-se uma secção na qual podemos consultar a energia média consumida no último ano até esse momento. Com os dados de consumo anual de energia podemos determinar qual a potência fotovoltaica que melhor se adapta às nossas necessidades.
Se quisermos aprofundar mais detalhadamente, podemos sempre obter a nossa curva de consumo diário recorrendo às plataformas online dos distribuidores energéticos e adaptar as nossas necessidades à potência fotovoltaica que pretendemos instalar. Inclusive, podemos exportar estes dados para uma folha de cálculo para poder fazer um melhor tratamento dos mesmos.
Assim que soubermos qual a nossa média de consumo, chega o momento de determinar qual a potência de pico que é necessário instalar. O objetivo principal é que a quota de autoconsumo do nosso sistema fotovoltaico seja o mais elevada possível.
É possível definir a quota de autoconsumo como a percentagem de energia produzida que é autoconsumida diretamente. Assim, quanto maior a quota de autoconsumo, maior será a eficiência e menor será o período de amortização da instalação.
Aqui podemos ver um exemplo de uma loja com um consumo médio diário de 230 kWh e na qual se aplicou uma instalação de 20 kWp.
Neste caso, a nossa quota de autoconsumo em % seria a seguinte:
Cuota de autoconsumo = (110kWh generados / 123 kWh autoconsumidos) x 100 = 89,3%
Isto é, 89,3% da energia solar gerada é autoconsumida diretamente pelo sistema e apenas 10,7% é remetida para a rede.
A utilização de uma bateria solar para armazenar a energia do nosso sistema fotovoltaico é totalmente opcional. Acrescentar um sistema de baterias à nossa instalação implicará um aumento do custo da mesma e permitir-nos-á depender menos da rede pública, visto que podemos aproveitar, durante a noite ou em dias nublados, essa energia solar excedentária que produzimos durante o dia. No entanto, aqui temos de prestar muita atenção à nossa curva de consumo.
Se o nosso consumo estiver concentrado nas horas centrais do dia e a nossa potência fotovoltaica instalada for insuficiente, corremos o risco de não conseguir carregar a bateria, o que implica um gasto inútil num sistema de armazenamento que não vai conseguir carregar com a produção dos nossos painéis fotovoltaicos. No exemplo anterior da loja de 20 kWp, o excedente seria de apenas 10,7% pelo que não faz sentido instalar um sistema de acumulação.
Pelo contrário, se o nosso consumo ocorrer principalmente nas primeiras horas do dia e durante a tarde, o nosso sistema encarregar-se-á de abastecer os consumos e enviar o excedente para as baterias. Neste caso é interessante considerar a instalação de um acumulador, visto que estamos a enviar este excedente de energia produzida para o sistema de baterias.
E se tiver excedentes e não quiser utilizar um acumulador?
Outra opção contemplada pelo novo RD 244/2019 para instalações de até 100 kWp com envio de excedentes é receber uma compensação pela energia enviada a título de saldo líquido. Não obstante, temos de ter em conta que a compensação pela referida energia será sempre inferior ao preço ao qual a estamos a comprar.
Realizar cálculos de uma instalação de autoconsumo pode por vezes ser aborrecido. Principalmente, quando não conseguimos prever com exatidão as condições de irradiação, inclinação e orientação dos painéis solares.
Felizmente, os principais fabricantes de inversores fotovoltaicos já dispõem de softwares de design totalmente gratuitos e que estimam as nossas percentagens de quota de autoconsumo e quota tributária no nosso sistema, seja com ou sem acumulação.
Um exemplo seria o da Solar Edge Designer:
Em conclusão, o cálculo de uma instalação de autoconsumo deve corresponder às nossas necessidades de consumo. Não é por enchermos o nosso telhado de placas solares que teremos um sistema mais eficiente, nem o contrário. Realizar um breve estudo preliminar que nos permita saber qual é a potência de pico ideal que permita converter o nosso sistema no mais amortizável possível, no menor prazo possível, é uma questão básica e necessária. As ferramentas de design disponibilizadas pelas principais marcas de inversores podem ser muito úteis não só para realizar estes cálculos de uma forma rápida, como também para compreender melhor o funcionamento do nosso sistema fotovoltaico.